Um tempero importante: o suspense
Alguns filmes de aventura do cinema mudo sempre
mostravam a mocinha sendo insistentemente perseguida pelo vilão de capa preta e
colocada por ele em situações de risco extremo e mortal. Uma das situações
clichê era a heroína ser amarrada a um trilho enquanto o trem se aproximava
rapidamente, e nesse ponto exato a película era interrompida para anunciar a
continuação no episódio seguinte. Essa estratégia deixava os espectadores com a
respiração parada, em suspense, aguardando ansiosamente o desfecho que só viria
no próximo episódio.
A palavra “suspense” vem de “suspender” e evoca a
impressão de alguém que está suspenso em um abismo pelas pontas dos dedos. É um
artifício que era muito usado em histórias de aventura e mistério, muito
populares na segunda metade do século XIX. Ainda que a história seja um drama
romântico, se houver uma pitada de suspense, ele tende a fazer o tempo parar.
Uma vez, quando eu escrevia o livro A Tenda
Peregrina, uma amiga que fazia a leitura beta do livro disse que estava
sentindo falta de algo que estimulasse a continuação da leitura quando
terminava um capítulo. Eu pensei e pensei e descobri o tempero que faltava: o
suspense. Algo que deixasse o leitor ávido para passar ao capítulo seguinte,
que nem as películas do cinema mudo. A partir daí, a cada final de capítulo
acontecia uma situação inusitada que deixava a cena suspensa. Isso deu ritmo à
história e me ajudou nos livros que viriam depois. O suspense é um tempero do
qual eu não abro mão.
O suspense geralmente é associado às histórias de
aventura e mistério, como eu disse antes, e por ter surgido com um grande apelo
popular, foi por muito tempo um gênero desprezado e até rebaixado pelos
críticos da modernidade que preferiam histórias focadas na realidade social e
política da época. Mas hoje, felizmente, não é assim. O suspense se mostra em
alta conta, podendo ser encontrado em qualquer gênero de romance, seja ele de
aventura ou não. Como nós, autores, podemos servir um livro sem “suspense” ou
“surpresas”? Seria como servir um prato de comida sem tempero. Nossa história
precisa de sabor para agradar o paladar do leitor, que às vezes é bem exigente.
Um bom livro de suspense que tomo como exemplo é O
Historiador, de Elizabeth Kostova. O livro traz uma progressão lenta e vai
alternando os narradores e as épocas para contar a história de Vlad Drácula e
sua lenda.A história é construída de tal forma que te faz olhar para os cantos sombrios
esperando ver alguma coisa. E outro livro que indico é Viagem ao Centro da
Terra de Julio Verne. A quantidade de termos técnicos da geologia poderia
tornar a leitura cansativa, se não fosse o suspense presente em toda a
aventura. A sensação de se ver perdido no mundo subterrâneo sentindo o peso da
terra sobre si é o ápice desse livro. E mais uma vez vou deixar aqui os livros
indicados, caso queiram conferir o que foi dito aqui.
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