Ballet ou Pipoca?
Esse foi um texto que fiz baseado em fatos reais de minha infância. Eu estava remexendo em meus escritos antigos e o achei. Vou compartilhar com vocês esse pedacinho de minhas lembranças.
Encantava-me o Ballet. Eu costumava acompanhar minha prima ao Teatro José de Alencar, quando ela ia para suas aulas de dança. Hoje, eu rio quando lembro. O teatro, naquele tempo, não era tão belo como hoje, mas tinha muito mais “charme”. Tinha porão. Tinha ratos. E tinha uma escada de madeira que rangia quando subíamos. Eu tentava imaginar a comunidade de cupins que habitavam no seu interior.
A sala de aulas de minha prima ficava em um nível acima do palco principal (que na época era o único!), e ainda contava com um piano velho e uma professora que fazia as marcações com um bastão.
Eu ficava sentada no cantinho, observando, aguardando a aula terminar. Na minha bolsa a tiracolo havia um lanche duplo, preparado para uma travessura muito particular. Era sexta-feira à noite! Noite de Ballet! A aula terminava sempre uma hora antes dos portões do teatro se abrirem para o espetáculo. Seria mais uma noite mágica.
Eu e minha prima atravessamos o porão, ignorando as histórias de fantasmas e os ratos, e subimos escondidas as escadas de ferro do teatro que levavam até a sacada. De lá, debruçadas, podíamos ver a praça e o movimento das pessoas que começavam a chegar. A sala do recital dava um bom esconderijo, pois era um pouco recuada. Lá, sentadas nos batentes, comíamos o lanche sem ninguém suspeitar de nossa existência.
As horas se passaram, anoiteceu, e finalmente os portões foram abertos. Nessa hora, já de barriga cheia, nós saímos do esconderijo e nos misturamos à multidão que entrava. Ainda me lembro daquela noite específica! Era um espetáculo muito aguardado. Dom Quixote, de uma das maiores companhias de Ballet que havia em Fortaleza. A Academia Hugo Bianchi, que sempre apresentava grandes clássicos do ballet, com bailarinos especialmente convidados de outras companhias, em geral do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Andamos pela plateia com ar de inocência, escolhemos o melhor lugar e relaxamos. Antes de começar o Ballet, porém, alguém gritou:
- Senhoras e senhores, por favor, fiquem em seus lugares com os bilhetes nas mãos para a verificação de controle interno.
Aquilo nunca havia acontecido antes! Era o fim de um sonho. Saímos de fininho e fomos comer pipoca-doce na praça.
Vou deixar como indicação de livro, esse lindo clássico que inspirou um dos meus ballets preferidos. O quebra-nozes, de Alexandre Dumas.
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