Quando um romance começa?
Eis aí uma pergunta difícil de responder com precisão. Não
existe uma fórmula já pronta para dar ao escritor a indicação de como iniciar
um romance. Pessoalmente, eu vejo nesse processo a parte mais difícil da
escrita, pois é ali, no começo, na primeira leitura, nas primeiras palavras que
o romance vai “fisgar” o leitor ou apenas vê-lo ir embora. O ato de iniciar um
romance acarreta muita responsabilidade para o autor, uma responsabilidade para
com a própria obra que já surge em sua mente como um esboço lutando para sair
em traços definidos. Resta agora passar esses esboços para o papel e
transformá-los em letras a serem assimiladas.
O
leitor espera, ao abrir um livro, algo que o impacte e o segure naquela página.
Esse algo tem que ser suficiente para estimular sua curiosidade, sacudir seu
emocional ou ativar algo em sua memória, talvez se crie até um vínculo que só
será desfeito na última página.
Mas o que
seria esse “começo”? O primeiro parágrafo? A primeira página? O primeiro
capítulo? Segundo David Lodge, no livro A Arte da Ficção, “Qualquer que seja a
definição, o começo de um romance é a fronteira que separa o mundo real que
habitamos do mundo que o romancista imaginou”.
A forma de
iniciar um romance, é claro, varia de escritor para escritor. Desde o “Era uma
vez” tão característico dos contos de fada até o icônico “Numa pequena toca
morava um hobbit”, este não deixa de ser um momento mágico. É o momento em que
um novo mundo, uma nova realidade abre as portas para o leitor. O ato de apenas
abrir o livro não significa passar pela porta, é preciso ser atraído, fisgado
pelas palavras mágicas e só então conseguir entrar.
Para mim, como
autora de romances, é extremamente delicado dar esse primeiro passo. São dias,
horas pensando. Noites em claro olhando para o nada. Pensamentos vagando por
regiões desconhecidas. Até que de repente a luz acende iluminando o poder
criativo e tudo tem início.
Citei aqui
alguns livros que vou deixar como indicação. O primeiro deles é o que está
sendo para mim uma base para fazer esses estudos e trazer até vocês de uma
forma mais simplificada e com indicações mais atuais. A Arte da Ficção, de
David Lodge, caso vocês se interessem em conhecer e conferir as pérolas que
estão entre suas páginas.
O outro livro
que citei é O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, que dispensa comentários. Como um
dos maiores criadores de mundos da ficção, Tolkien traz um início bastante
descritivo que parte do improviso de uma frase rabiscada em uma folha de papel
em branco: "Numa toca no chão vivia um hobbit...". Vale a pena
conferir.
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