A Literatura de Cordel e a cultura popular

 

Clique na Ficção - cordéis pendurados em um varal com pegadores

Literatura de cordel é um gênero literário característico da cultura popular e escrito frequentemente na forma rimada, tendo suas origens ligadas aos relatos orais que posteriormente vieram a ser impressos em folhetos. É muito comum, ou era, encontrá-los em bancas de revista, escritos por artistas que retratavam temas antigos e também atuais, sempre com um pouco de humor e sátira.


História





Sua história remonta ao século XVI, quando durante o Renascimento os relatos orais se tornaram populares, isso devido aos trovadores medievais cujas cantigas evoluíram até os nossos dias. Quando chegou ao Brasil acabou se tornando uma forma literária de apelo popular. É chamado de Cordel porque os folhetos ficavam expostos para venda pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal, e assim eram encontrados ainda por um bom tempo em algumas bancas de jornal aqui do Nordeste. Apesar de a tradição do barbante ser preservada em algumas bancas, outras preferiam os expor em painéis ou pregados ao vidro. Alguns poemas trazem ilustrações com xilogravuras, também usadas nas capas. Isso é interessante porque vemos aí também o crescimento de outra arte: a Xilogravura. As estrofes mais comuns têm dez, oito ou seis versos. Os autores, chamados de cordelistas, recitam esses versos de forma muito peculiar, num ritmo melodioso e cadenciado, muitas vezes improvisado, acompanhados ou não de viola, e também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.

Na segunda metade do século XIX, aqui no Brasil, começaram as impressões de folhetos brasileiros, com seu formato e características próprios. Os temas incluem fatos do cotidiano, episódios históricos, lendas, temas religiosos, entre muitos outros.  Alguns dos temas mais populares falam sobre as façanhas do cangaceiro Lampião  e o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Não há limite para a criação de temas dos cordéis. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar cordel nas mãos de um poeta talentoso.


O cordel no Brasil





Aqui no Brasil, a literatura de cordel é uma produção típica do Nordeste, sobretudo nos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Ceará e da Bahia. Os folhetos costumava ser vendidos em mercados e feiras pelos próprios autores. Hoje já aparecem em vários outros estados.  O cordel hoje é vendido em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas.

Segundo Carlos Drummond de Andrade: "A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior. O poeta cordelista exprime com felicidade aquilo que seus companheiros de vida e de classe econômica sentem realmente. A espontaneidade e graça dessas criações fazem com que o leitor urbano, mais sofisticado, lhes dedique interesse, despertando ainda a pesquisa e análise de eruditos universitários. É esta, pois, uma poesia de confraternização social que alcança uma grande área de sensibilidade".

A literatura de cordel apresenta vários aspectos interessantes e dignos de destaque:

Funcionam como divulgadora da arte do cotidiano, das tradições populares e dos autores locais;

Ajudam na disseminação de hábitos de leitura e lutam contra o analfabetismo;

Elevam a literatura de cordel ao estandarte de obras de teor didático e educativo.

Com o advento das redes sociais na Internet, muitos cordéis são apenas escritos e divulgados na internet sem impressão de folhetos, tirando assim sua principal característica.

Os textos considerados romances na literatura de cordel possuem alguns traços em comum quanto à sua narrativa. Os recursos narrativos mais utilizados nesses cordéis são as descrições dos personagens em cena e os monólogos com queixas, súplicas, rogos e preces por parte do protagonista.

São histórias que têm como ponto central um problema a ser resolvido através de inteligência e astúcia para atingir um objetivo.

O herói sofrerá, vivendo em desgraça e martírio, sempre fiel ao seu amor ou às suas convicções, mesmo com as intempéries. Esse é um lado claramente derivado das cantigas dos trovadores medievais. É comum que a história envolva jovens que enfrentam problemas na escolha de seus companheiros, em relações familiares extremamente hierarquizadas. Objeção, proibição do namoro, noivados arranjados são algumas das dificuldades que impedem o jovem casal apaixonado de ficar junto ao longo do romance.

Ao fim de tudo, o herói será exaltado e os opositores humilhados. Se assim não for, haverá outro meio de equilibrar a situação, que durante quase toda a narrativa permaneceu desfavorável ao protagonista.

O Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel é um Importante veículo de divulgação da linguagem dos cantadores e de sua maneira de se expressar. A literatura de cordel há tempos necessitava de uma obra de referência capaz de registrar em detalhes, mas de forma objetiva, os aspectos que estruturam o gênero.









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