Qual é o papel das mulheres na fantasia épica – Parte 2

 


Quando comecei a escrever a Saga Os Tronos da Luz, desejava falar sobre mulheres fortes, heroínas. Tirar aquela imagem da “donzela em perigo” que eu já estava cansada de ler nos livros e assistir nos filmes. Pesquisei o conceito de sociedades matriarcais e descobri que elas não significavam uma sociedade onde as mulheres mandavam e os homens obedeciam, mas sim uma sociedade igualitária, onde homens e mulheres tinham a mesma importância. Então, por que não haveria reinos onde as mulheres herdariam os tronos? Por que não haveria um exército composto de Amazonas? Por que elas não estariam no centro de uma Profecia que salvaria o mundo? Foi assim que Deborah e Jael nasceram em minha mente.

A arte da fantasia tem um histórico que vem recebendo muita atenção online. Quando analisamos, para começar, a armadura feminina, vemos que o gênero tem um problema. São sempre armaduras que cobrem uma parte do corpo e ouras não. Falo de imagens. Basta pesquisar no Google Imagens. Por que é isso? Por que não temos mais histórias em que as mulheres estão em pé de igualdade com os homens? Onde há tantas personagens femininas quanto personagens masculinos, e tantas personagens femininas INTERESSANTES quanto personagens masculinos interessantes? Por que as mulheres muitas vezes são rainhas, nobres ou superguerreiras hiperfantasiadas cuja principal característica parece ser o quão duronas elas são, apesar de geralmente serem fortemente dependentes de um homem em um sentido romântico? Por que as mulheres não estão em pé de igualdade com os homens na fantasia?

Muitas vezes você ouvirá isso: “Bem, obviamente, homens e mulheres não eram tratados como iguais naquela época”. Eu gostaria de perguntar: "De que momentos estamos falando?"

Westeros não é o planeta em que vivemos. Nem a Terra-média, nem nenhum dos outros mundos em que nossas séries de fantasia favoritas acontecem. “Aqueles tempos” é necessariamente uma afirmação subjetiva. Você está se referindo aos “tempos da Terra” e dizendo que NOSSO PASSADO é o único passado que poderia existir, em qualquer sociedade, em qualquer lugar. Aceitamos sem dúvida que esses mundos têm magia, elfos, dragões, criaturas do folclore e dos contos de fadas. São mundos fantásticos que não precisam seguir as regras do mundo real.

Por que tantas séries de fantasia são baseadas em derivados semelhantes a Arthur e nenhuma em Joana d'Arc? Digamos que você tenha que aderir aos padrões ditados pelas sociedades patriarcais do passado da Terra. Isso significa que ainda não podemos criar personagens interessantes, mesmo que sejam desiguais aos olhos da sociedade? Não devemos nos limitar a guerreiros e monarcas. Deveríamos criar mais personagens inteligentes em vez de colossais. Temos uma riqueza de protagonistas masculinos inteligentes e perspicazes que resolvem seus problemas com inteligência e desenvoltura. A tentativa mais simples que um autor poderia fazer para equilibrar a balança seria ter pelo menos tantas mulheres em seus livros quanto homens. Eu costumo fazer isso em meus romances de fantasia. 50% dos meus personagens com papéis de fala são mulheres. E 50% dos meus protagonistas (em todos os meus livros) são mulheres. Mas os homens estão lá com a outra metade, fazendo o trabalho deles e ajudando e sendo ajudados por mulheres como suas iguais.

Ignorar completamente a presença de mulheres, como Tolkien fez em O Hobbit , ou relegá-las a alguns papéis minúsculos e sem importância, como muitos autores de fantasia fazem, é um afastamento muito maior da realidade. Para que C. S. Lewis daria um arco à Susanna e diria a ela ao mesmo tempo que guerras não foram feitas para meninas? Então por que deu o arco?

Eu vejo duas maneiras de melhorar as mulheres na ficção e na fantasia. Um método  nos dá um mundo onde sim, as mulheres são geralmente consideradas subservientes aos homens. Mas elas estão autorizadas a ser mais do que isso, tomando o protagonismo de forma inteligente. Elas têm seus próprios sonhos e desejos e objetivos e obstáculos. Resumindo, são pessoas. A outra maneira de melhorar a fantasia é apenas fazer com que as mulheres sejam iguais. Nós, os autores, criamos esses mundos. Podemos fazer o que quisermos. As regras são nossas.  A ficção especulativa é apenas isso: “E se o mundo fosse ASSIM?” Fazemos isso com tecnologia e magia o tempo todo. Por que não política de gênero? Isso significa que essas mulheres devem ser perfeitas? Que eles devem sempre vencer e não devem ter obstáculos? Que devemos colocá-las em algum pedestal para mostrar como são incríveis e perfeitas em todos os sentidos? Seriam histórias bem chatas. Deixe que tenham falhas, mesmo as mais terríveis. Deixe-as ter seus medos, seus traumas. Que sejam covardes. Que sejam fortes, umas por dentro, outras por fora. Que sejam rainhas, guerreiras, rangers, mercadoras e marinheiras. Piratas e salvadoras. Que sejam pessoas.

Autores, apenas não cometam o erro de deixar as mulheres totalmente fora de suas histórias.  Eu tenho um papel a desempenhar nessa mudança. Você também. Não é feminismo, é apenas justiça. A mulher é mais do que um lenço sendo abanado em uma janela enquanto seu cavaleiro parte para a guerra, ou uma barriga que vai gerar o grande herói da história.

Vou deixar como indicação minha Saga Os Tronos da Luz. Não vou explicar o motivo. Mas se sentirem alguma curiosidade é só clicar na imagem.




 


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