Os vícios de linguagem podem atrapalhar nossa escrita?

 

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Falando não tanto como escritora, mas também como revisora, quero trazer à tona algo que deve ser trabalhado com cuidado. O vício de linguagem. Temos a tendência, como escritores, de quando nos sentimos muito à vontade com o texto, passamos a nos comunicar com mais liberdade, soltando expressões que usaríamos em uma conversa informal com familiares e amigos. O problema é que essas expressões podem fazer sentido para mim, para a minha região, mas não para determinado leitor. Lembrando que aqui no Brasil possuímos 5 regiões que diferem muito entre si, inclusive nos vícios de linguagem. E dentro das próprias regiões é possível encontrar diferenças. Então vamos saber mais um pouco sobre isso.

Para começar, vamos deixar claro que os vícios de linguagem são problemas que podem ser evitados depois que passamos a conhecê-los melhor. Eles costumam surgir em situações de descuido, ou talvez porque já nos acostumamos a reproduzi-los, e também quando não temos muito cuidado com o nosso Português. Em alguns livros, por exemplo, os autores gostam de manter certos vícios como uma característica de determinado personagem, e isso não tem nenhum problema. O problema é quando esses vícios surgem na voz do narrador sem nenhuma explicação. Tentar evitá-los é fundamental para ter um bom desempenho na escrita e alcançar um público-alvo mais abrangente.


Mas o que é um vício de linguagem?


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Um vício de linguagem significa utilizar uma ou mais palavras e expressões que não estão de acordo com a norma culta, mas que fazem parte do nosso modo de falar no dia a dia. Trata-se de uma mudança causada mais por descuido do que por ignorância em relação à língua padrão. Quando são usados mais de uma vez em um livro sem necessidade, fazendo a narrativa se tornar estranha para o leitor, os vícios de linguagem podem comprometer a imagem de um escritor.


Quais os tipos de vícios de linguagem que devemos evitar?


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1. Arcaísmo

É o uso de palavras antigas e em desuso, que não fazem mais parte do vocabulário da Língua Portuguesa. Utilizar esses termos torna o diálogo ou a escrita antiquados e com aspecto arcaico. Mas podem ser usados, caso você esteja escrevendo um livro de época, por exemplo. Ou se no seu livro um determinado personagem do passado faz uma visita ao futuro. Se não for nenhum desses casos, evite. Expressões como “quiçá”, “Vossa Mercê” ou “por obséquio”, fazem parte do arcaísmo e só devem ser utilizadas se estiverem de acordo com a situação ou com o personagem.

2. Barbarismo

É a grafia errada da palavra, isso também inclui o uso de palavras estrangeiras. Há muitas palavras assim sendo utilizadas de maneira inadequada. Até o ensino médio, eu achava que Você era escrita com ç, e colocava isso em minhas redações. Para mim era automático. Até o dia em que fui chamada a atenção diante da classe. Caiu a ficha e eu aprendi a escrever direito. Mas ainda tem momentos que eu paro antes de escrever para não errar, porque ficou gravado em meu subconsciente como se fosse a forma certa. Da mesma forma, como revisora, encontro muitos textos onde uma palavra errada é reescrita várias vezes. Daí vem a necessidade de uma boa revisão. No caso do estrangeirismo, se fizer parte do personagem, tudo bem, mas o uso aleatório se torna deselegante e feio.

3. Solecismo

São casos comuns de erros de regência, colocação e concordância. Quer ver um exemplo disso? “Hoje fazem dois dias desde que comecei a trabalhar” — aqui, o correto seria dizer que “faz dois dias”, pois o verbo não concorda com nenhum sujeito. É preciso ter cuidado, com a colocação pronominal na hora de escrever. Por exemplo, “Me mande uma pizza?”, na verdade, é “Mande-me uma pizza?” na norma culta. Isso ocorre sempre no início de um período. Mas eu entendo que às vezes os autores gostam de usar o modo menos culto para aproximar mais o personagem da realidade do leitor. É difícil imaginar um personagem adolescente pedindo “Mande-me uma pizza”. Nesse sentido acredito que seja um erro aceitável. Como revisora, eu gosto de perguntar a opinião do autor a esse respeito antes de fazer a mudança. Mas eu repito, a coisa muda quando acontece na voz do narrador. Essa deve sempre procurar manter a forma culta. A não ser que narre o texto usando a voz do personagem.

4. Neologismo

Neologismo é simplesmente a invenção de uma palavra que não existe em nosso vocabulário. Pode ser aceitável na literatura, mas nunca use em redações ou trabalhos acadêmicos.

5. Pleonasmo

Nada mais é que a redundância na informação. Quem escreve livros muito longos e complexos (como é o meu caso), sabe como é importante estar sempre atento ao que foi dito, para não acabar desmentindo a nós mesmos ou contar algo importante antes do tempo. Para que haja uma surpresa, obviamente era algo não esperado. Da mesma forma, quando se guarda algum segredo, é sempre para revelá-lo depois. Prestar atenção tanto na repetição de uma informação quanto de uma ideia é fundamental para manter a escrita e a fala em harmonia.

 

Como podemos evitar os vícios de linguagem?




Agora que você sabe quais são os principais vícios de linguagem, saiba o que deve fazer para evitá-los na sua escrita:

             Identifique o problema reconhecendo o vício;

             Pratique sua escrita constantemente com textos curtos;

             Pesquise sempre em dicionários e gramáticas para estar mais íntimo da língua portuguesa;

             Estude outros textos e procure identificar possíveis erros;

             Revise seus textos depois de feitos e marque os erros que encontrou;

             Ler em voz alta é um bom exercício.


Por que devemos evitar os vícios de linguagem?




Os vícios de linguagem só trazem impactos negativos quando empregados de forma displicente, seja na sua imagem pessoal, quando em algum evento público você acaba cometendo uma inadequação na fala, seja no seu desempenho acadêmico (que não tolera erros) ou literário (que requer cuidados especiais), pois coloca à prova a qualidade do seu trabalho.

Gostou do texto? Espero que tenha ajudado a dissipar suas dúvidas!

Vou deixar aqui um livro como indicação: Rápido e devagar: Duas formas de pensar, de Daniel Kahneman. Um bom livro para aprender a exercitar a mente.










 

 

 


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