A tríade indianista de José de Alencar


 

Você com certeza já ouviu falar da trilogia indianista de José de Alencar. O termo se refere aos três romances de temática indianista escritos pelo autor. São eles O Guarani, Iracema e Ubirajara. Falarei sobre cada um individualmente. Antes vamos esclarecer o que significava o termo “indianista”. O indianismo foi uma das tendências que mais se destacaram no período do Romantismo brasileiro. Muitos dos maiores nomes da nossa literatura romântica surgiram nessa fase, como Gonçalves Dias na poesia e José de Alencar na prosa. José de Alencar, no caso, tinha um trabalho mais amplo e diversificado, com obras que contribuíram para o projeto de construção de nossa cultura. O romance indianista, nesse contexto do romantismo, buscava um tema heroico nacional e uma linguagem mais brasileira, afastando-se mais dos temas da fidalguia que exaltavam o modo de vida europeu que se tentava viver no Brasil. Esse estilo encontrou no índio uma de suas mais autênticas expressões. Não era preciso importar o mito do "bom selvagem", de Rousseau: ele estava vivo nas matas brasileiras, identificadas como o "paraíso perdido" que nem mesmo os brasileiros conheciam. E não conheciam mesmo, visto que nessa tentativa de exaltar o mito acabou-se romantizando demais a figura do índio, tirando suas características reais e assemelhando-o mais a um herói medieval das florestas do que a um habitante da terra, aferrado à natureza e com uma cultura que estava muito distante do que poderia ser chamado de selvagem.

Vamos agora conhecer as obras dessa tríade:

1.            O Guarani




O Guarani foi desenvolvido em princípio em folhetim, ou seja, os capítulos eram publicados periodicamente em jornais ou revistas. No caso desse livro, ele tem o primeiro capítulo publicado inicialmente no Diário do Rio de Janeiro, e somente no fim desse ano, seria publicado como livro, com alterações e revisões em relação ao material que fora publicado em folhetim, na intenção de torná-la uma obra melhorada e completa. Foi O Guarani que fez de José de Alencar um autor reconhecido. O livro fala sobre a devoção e fidelidade de Peri, índio goitacá, por Cecília; o amor de Isabel por Álvaro, e o amor deste por Cecília; a morte acidental de uma índia aimoré por D. Diogo e a consequente revolta e ataque dos aimorés, tudo isso ocorrendo com uma rebelião dos homens de D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e mau-caráter, que deseja saquear a casa e raptar Cecília. Nessa trama nós vemos o índio Peri como um servo fiel de Cecília, que está sempre perto para livrá-la dos perigos, a sua afeição por Cecília e sua devoção e lealdade à casa de seu pai, faz lembrar a muitos os juramentos de fidelidade que os cavaleiros faziam aos seus senhores na Idade Média. Isso servia para exaltar e fazer da figura do índio um herói da nação.

 

2.            Iracema




É impossível ler Iracema e não fazer comparações com a história de Pocahontas. Ambas surgem como mitos fundadores onde ficção e realidade se entrelaçam. Em Iracema, Alencar criou uma mitologia poética que explica as origens de sua terra natal. A "virgem dos lábios de mel" tornou-se símbolo do Ceará, e seu filho, Moacir, nascido de seus amores com o colonizador português Martim, representa o primeiro cearense, fruto da união das duas raças. Aqui em Fortaleza, temos pelo menos três estátuas de Iracema, pois ela se tornou mais do que um personagem fictício, ela se tornou um mito, alguém que supostamente existiu de fato e colaborou para a formação do povo cearense. A história, porém, também pode ser vista como uma representação do que aconteceu com a América na época de colonização europeia. Não é por acaso que o nome Iracema é um anagrama de América. O livro conta uma das histórias de amor mais aclamadas da literatura brasileira, Iracema apresenta o romance do herói branco com a virgem dos lábios de mel. A bela índia Iracema detém o segredo da Jurema, que lhe cobra virgindade. O valente guerreiro português Martim tem a missão de fiscalizar a costa cearense contra invasões estrangeiras. Desse amor proibido nasce o primeiro mestiço, símbolo do povo brasileiro. Obra mais conhecida da literatura romântica nacionalista de José de Alencar, Iracema é uma aventura épica recheada de lirismo poético. E Iracema, para não deixar de citar o heroísmo, tem uma pegada de guerreira. Duas das estátuas representadas em minha cidade trazem a índia portando o arco.

 

3.            Ubirajara




Ubirajara é, da tríade de Alencar, o meu romance indianista preferido, pois traz um enredo que mostra Ubirajara, personagem principal da obra, como um índio brasileiro puro, que ainda não se corrompeu perante a cultura europeia. A história é empolgante. Jaguarê, jovem caçador araguaia, procura em outras terras um inimigo com quem possa lutar, pois, levando um prisioneiro para sua taba, ele conseguiria o título de guerreiro. Mas, em vez de um guerreiro, ele encontra uma índia tocantim, de nome Araci, que era filha do chefe da tribo. Ela diz que em sua nação existem cem guerreiros que a vão disputar em casamento e Jaguarê é convidado a ser mais um deles. Jaguarê prefere dizer a Araci que mande todos eles para combater com ele – assim ela fez. Logo aparece Pojucã para combater com Jaguarê e é vencido por ele. Jaguarê se torna, então, Ubirajara: o senhor da lança. Parece até um Game of Thrones indianista, pois há intrigas, há guerras e muita tensão.

 

Então essa é a tríade. Minhas indicações são obviamente os livros que foram citados. Clique na imagem e seja levado para a página de compra, caso queira conhecer essa imagem mítica e heroica criada pelo nosso romantismo.

 

 

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