Resenha 8 - Origem
Se você leu até aqui a série de Dan Brown contando as aventuras do simbologista Robert Langdon, sabe o que esperar. A fórmula corriqueira é: alguém é assassinado pouco antes de compartilhar um grande segredo, Langdon corre por uma cidade velha tentando resolver pistas, sua companheira feminina tem sempre alguma ligação com a vítima e há uma revelação de reviravolta perto do final que provavelmente não é tão surpreendente quanto o autor pensa que será. Você chega a se encontrar rangendo os dentes com algumas das coisas óbvias que Brown e seus personagens intelectuais e acadêmicos sentem a necessidade de explicar. Um caso que se destaca nesse livro é provavelmente o serviço de compartilhamento de viagens Uber, que é descrito para o leitor numa época em que todos já conhecem o serviço.
Esse estilo de escrita pode ser enigmático, mas tem muitos furos na trama, embora ainda funcione para alguns. Mas o enredo de Origem depende tanto dos equívocos de Brown sobre ciência e religião que é difícil apenas sentar e apreciar Langdon fazendo suas coisas de sempre. Por exemplo, a ideia de que a descoberta de um cientista poderia destruir os fundamentos de todas as crenças no mundo é ridícula à primeira vista, e não se torna menos ridícula até o final da história. Outro ponto que considero que foi arriscado para o autor, foi tirar o foco da arte renascentista e barroca e colocá-lo na arte moderna, que é um campo que Langdon não domina.
É uma verdade universalmente conhecida que em romances de mistério o verdadeiro vilão nunca será aquele que estamos propensos a suspeitar, mas provavelmente será aquele em quem depositamos maior confiança. Os romances de Dan Brown nunca vacilam desse fato e essa nova adição não é diferente. É só focar no personagem mais legal e que está longe de qualquer suspeita. Às vezes queremos até acreditar que estamos enganados, mas quando se trata de Dan Brown é melhor se conformar.
Quanto ao elemento “emoção”, o romance foi um pouco decepcionante. Não está nem perto de Anjos e Demônio ou Inferno. Também não há muito jogo com símbolos, como é habitual na série de Langdon, particularmente em O Código da Vinci e O Símbolo Perdido, o que foi outra decepção. O que me atraía nesses romances anteriores de Dan Brown era justamente a versatilidade de Robert Langdon para decifrar enigmas com símbolos complicados ao mesmo tempo em que nos dava uma aula sobre a história da arte. Quanto a isso, em Origem, o passeio detalhado pelo país, dessa vez a Espanha, que é onde a história se passa, tem muitas explicações históricas que ainda o prenderá ao livro. Mas isso não exclui o fato de que o gênio de Robert Langdon foi apagado, é como se o personagem estivesse ali apenas para tapar um buraco.
Por esse motivo, não posso dar 5 estrelas para esse livro. Darei 3, pois a descrição dos lugares históricos ainda é válida e deixa um pouco de água na boca.
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