Livros e filmes: qual é o limite das adaptações?


 

Eu, assim como muitas pessoas, tive o primeiro contato com O Senhor dos Anéis pela trilogia de filmes, e só depois li o livro. Aconteceu o mesmo com As Crônicas de Nárnia. E posso tirar dois fatos interessantes para contar antes de falar sobre adaptações. Quando assisti A Sociedade do Anel, uma das cenas que eu mais gostei foi aquela da Arwen levando Frodo no cavalo e sendo perseguida pelos nove cavaleiros negros, os Nazgul. Achei incrível quando ela atravessou o rio e falou em élfico convocando uma onda de cavalos de água que levaram os Nove para longe. Eu pensei: “Nossa, essa cena no livro deve ser incrível!”. Quando li, percebi que não poderia ser mais diferente. Não havia Arwen, mas Glorfindel. E ele não leva Frodo no cavalo, o hobbit vai sozinho. E quem convoca os cavalos são Gandalf e Elrond juntos. E a Arwen? Ela mal aparece no livro. Amo a obra de Tolkien, mas devo dizer que preferi a cena mostrada no filme.

O mesmo aconteceu quando assisti ao segundo filme das Crônicas de Nárnia, O Príncipe Caspian. Era uma história tão dinâmica, cheia de fugas e batalhas e planos de guerra sendo feitos, estratégias sendo montadas. A cena da batalha em que eles invadem o castelo é eletrizante. Como eu amo o tema de mulheres guerreiras, eu ia às nuvens vendo Susana e Lúcia desempenhando seus papéis junto com os irmãos. Li o livro ansiando pela aventura, mas também me enganei. Mulheres guerreiras não entram na história de Lewis. Na verdade, eu nem entendi porque Susana ganhou o arco. E quanto às batalhas, a aparente hostilidade entre Pedro e Caspian, a história heroica do príncipe, o chamado da trompa, tudo isso foi puramente cinematográfico. Quem é fã dos livros que me perdoem, mas dessa vez preferi a adaptação.

Estou contando esses dois casos, porque por mais que gostemos de um livro, quando ele é passado para a telona, algumas cenas tendem a sofrer mudanças. O ritmo do cinema é mais rápido e mais dinâmico do que o ritmo de um livro. Em quanto tempo você consegue assistir a trilogia do Senhor dos Anéis? E quanto tempo levaria para ler os livros? Mas há um limite para essas mudanças. Se for algo que acabe com a essência da história, é claro que devemos ficar bravos e bater o pé. Em O Hobbit, muitas mudanças aconteceram, mas vamos falar de uma. A inclusão da personagem Tauriel na trama. Ela não existe no livro, mas até aí tudo bem. O papel dela foi muito legal, fez diferença. Mas era totalmente dispensável o romance dela com Kili, o anão. Isso porque elfos e anões possuíam uma história complicada e é algo que Tolkien nunca imaginaria. Aliás, ele nem sequer imaginou colocar uma mulher naquela história! Para isso não posso bater palmas.

Outro caso de péssima adaptação é a de Percy Jackson. O filme parece ter sido criado para ser odiado, dado o tamanho das mudanças que colocaram. A essência do livro foi massacrada. Não havia profecia, não havia chalés, não havia Ares lutando com Percy, não havia personagens com a idade certa, não havia nem as camisetas laranja! Chegaram a mudar uma cena inteira e colocar uma que nem existia no livro. Trocaram a Quimera pela Hidra e tiraram uma das cenas mais icônicas do livro, que é onde Percy descobre que pode respirar embaixo d’água. Se eu for citar aqui todos os horrores dessa adaptação vai levar o texto inteiro! O mais engraçado é que tentaram consertar no segundo livro e erraram mais ainda. Annabeth ficou loira como no livro, mas sem personalidade, além disso, Percy enfrenta Cronos e o derrota, o que deveria acontecer no quinto livro da saga. Mas tem a série da Disney chegando sob o olhar atento de Rick Riordan, o autor. Sinto as esperanças se renovando.

O processo de adaptação de um livro é um trabalho árduo, especialmente se for conhecido, pois isso aumentará as expectativas e a curiosidade das pessoas sobre o próximo filme. Mas fazer uma continuação de um filme ou série amado também não é tarefa fácil. Uma adaptação cinematográfica vem com a pressão de corresponder às expectativas do trabalho original. Um filme vem com o fardo de corresponder às expectativas que o primeiro ou o anterior estabeleceu. A sequência mantém ou mantém e expande o mundo e os personagens que o filme ou filmes anteriores estabeleceram. O enredo é consistente o suficiente dentro da franquia e não contradiz nenhum dos temas que foram discutidos ou tratados antes da sequência para que os fãs fiquem satisfeitos. Isso é semelhante a um filme adaptado de um livro.

Os livros sempre foram multifuncionais e serviram a muitos propósitos. Numerosos livros foram escritos sobre inúmeros temas, como história e descrições de terras desconhecidas ou vários países, histórias épicas sobre guerras e heróis, tragédias sobre luto e perda, histórias de amor e mistérios onde o detetive tenta resolver o caso antes que seja tarde demais, histórias sobre terras mágicas onde os aventureiros vagam. Os livros evoluíram e refletiram a sociedade atual em que foram escritos, de uma forma ou de outra. E, claro, como tudo o mais, os livros também tiveram que se transformar e seguir em frente com os tempos. Isso fez com que os livros tivessem algumas subvariantes que se alimentam deles. Uma delas é o cinema.

Vou deixar aqui como indicação Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Uma história que foi bem adaptada para o cinema e gerou mais de uma série. As mudanças não são suficientes para macular a essência do livro.





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